sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Moderno x Contemporâneo (ou "tentando dar uma de crítico de arquitetura")

Qual a diferença entre o moderno e o contemporâneo na arquitetura?

Não é algo tão simples de responder como a diferença entre o charme e o funk, mas vamos tentar.

O "moderno" buscou romper com dogmas arquitetônicos baseado no classicismo, sendo reflexo de uma sociedade que se transformava cada vez mais rapidamente com o avanço tecnológico que permitiu o advento da produção em série e a difusão em massa de novos materiais - concreto e aço, principalmente - e técnicas de construção, assim como o aperfeiçoamento daquilo que já existia. Pode-se somar a isso o desgaste do ecletismo e de seus ornamentos - Adolf Loos sintetizou isso em "Ornamento e crime" - e a necessidade do desenvolvimento de novos métodos de habitabilidade para uma barulhenta e cada vez mais crescente classe média. Não havia mais espaço (e recursos) para a construção de palacetes com volutas, colunelas, frontões, abóbadas, etc. e tal. A funcionalidade e o conforto deveria se sobrepor à ornamentação. Tudo na casa deveria ter uma função. A casa seria, nas palavras de Le Corbusier, a "máquina de morar".

Meio teórico né? Pois bem, essa é a evidência de seu desgaste - poder ser teorizado.

Agora, o que pode ser considerado o "contemporâneo"?

Pode-se considerar uma reação ao desgaste do "moderno"? Sim. Mas há construções contemporâneas que com aparência modernista. E vale a pena lembrar que os cinco pontos de Le Corbusier ainda são utilizados até hoje.

Me asrrisco a dizer que o contemporâneo se volta para o passado - e isso inclui o Modernismo - através de novas linguagense com a tecnologia atual, assim como também se volta para o futuro - com todos os riscos e consequências de se caminhar rumo ao desconhecido.

E onde o Brasil se insere nisso?

Com exceções, no geral estamos em dois lugares: ou nas décadas de 50 e 60 - a blindagem criada pela mídia em torno de Niemeyer evidencia isso - ou no interior de uma casa européia ou norte-americana - basta desfolhar uma das inúmeras revistas de decoração hoje disponíveis.

Fizemos história durante o período modernista. O Brasil estava na vanguarda da arquitetura, através das obras de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Reidy, Lina Bo Bardi, entre muitos outros. Niemeyer, por exemplo, é um extremamente bem-sucedido exemplo da antropofagia de Mário de Andrade aplicada na arquitetura - pegar o que vem de fora e transformar para nossa realidade. E isso com um dos mais simples elementos - a curva.

Ponto para Niemeyer? Sim, evidente. Porém, infelizmente hoje está sendo a bola de ferro (ou melhor, de concreto) presa ao nosso calcanhar. O velhinho é idolatrado a ponto de não ser admitida nehuma crítica contra o mesmo. Isso não é exclusividade dele - fazemos o mesmo com Senna e com Lula. Grande culpa possuem os meios de comunicação por isso. Mas a maior culpa é nossa mesmo. Pois essa busca pelo que se orgulhar nós mesmo fazemos. Isso nos impede de vermos com nossos próprios olhos e pensarmos com nossas próprias mentes. A mídia apenas se aproveita disso - e de maneira magistral. Acrescenta-se a isso a total falta de incentivo por parte do governo em novas soluções habitacionais. Na maioria das vezes isso é feito pelos institutos de pesquisa públicos e privados - que não possuem capital para o lançamento desses tipos de programas em larga escala.

O resultado podemos ver lá fora. Atualmente, poucos arquitetos conseguem fazer a antropofagia na arquitetura. Uma quantidade menor ainda consegue fazer uma arquitetura utilizando exclusivamente técnicas tradicionais com uma linguagem contemporânea. Muitos se contentam em ler a Casa Cláudia, a Casa Vogue, a Espaço D, a Kaza, entre outras.

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