Do "Terra Magazine":
"Com o futebol cada vez mais balizado pelas finanças, crescem abismos entre os principais clubes brasileiros. Alguns conseguem arrecadações não tão distantes dos superesquadrões europeus e, assim, ampliam a disparidade em relação aos compatriotas.
Consultor e professor de gestão de entidades esportivas e estratégias de marketing esportivo, Amir Somoggi percebe a reconstrução da hierarquia nacional e o aumento do desnível de poder. Ele indica Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Internacional, Grêmio e Cruzeiro como os verdadeiros grandes atualmente, distinguidos assim devido ao nível de investimento que vêm conseguindo efetuar.
O especialista da consultoria Crowe Horwath RCS alerta que Fluminense, Botafogo e Atlético Mineiro tendem a deixar de ser considerados grandes em pouco tempo. Santos e Vasco ocupariam uma posição acima, embora também ameaçada.
Somoggi acredita que, composto por 12 tradicionais instituições, o grupo de clubes grandes brasileiros está se restringindo a sete. "O que vai acontecer é você tê-los no topo da pirâmide, está havendo um realinhamento", afirma para Terra Magazine.
"São as maiores marcas. Claro, os pequenos têm importância, representam um número grande de clubes formadores que precisam sobreviver. Mas isto é uma tendência global e está acontecendo no Brasil, a consolidação do mercado. Não há lugar para 20 ou 30 times grandes em nenhum lugar do mundo. Não seria diferente do Brasil", analisa o fenômeno nacional dos novos pobres.
Na verdade, ocorre o declínio de uns e o crescimento de outros. "O Flamengo arrecadou R$ 53 milhões em 2003; em 2008, R$ 118 milhões. O Vasco, que faturou R$ 36 milhões em 2003, só conseguiu R$ 52 milhões. O Fluminense passou de R$ 32 milhões para R$ 66 milhões. Por ano, São Paulo, Corinthians e Palmeiras arrecadam acima de R$ 100 milhões, cada um", compara.
Se as cotas de transmissão televisiva já reforçam a desigualdade de receita, Corinthians, São Paulo e Flamengo vêm estabelecendo recordes de patrocínios, enquanto outros clubes da própria Série A penam para obter um anunciante fixo nas áreas mais valorizadas de seus uniformes.
Para Somoggi, as disparidades se refletem na quantidade de equipes que, de fato, concorrem aos títulos. Nisto, ele destaca o São Paulo, com três títulos e uma terceira colocação nas quatro últimas edições da Série A.
"Nós temos que esperar dois, três anos de Brasileirão, para poder tirar alguma conclusão. Se São Paulo ou Flamengo for campeão, fica a fotografia igualzinha à da Europa. Todo mundo fala que aqui é diferente, que pode ter sete, oito, dez campeões, mas nunca vi isto acontecendo", alfineta Somoggi, pós-graduado em direção de marketing estratégico de entidades esportivas pela Universidade de Barcelona.
"Ficam com esta teoria, todo ano, de que o Botafogo pode ser campeão. Não vai ser campeão nunca. Com o faturamento e o gasto com futebol que tem, não tem jeito. O Botafogo é o Wigan, da Inglaterra", trata de apequenar o tradicional alvinegro.
Negócio
Apesar de algumas zebras e partidas equilibradas entre ocupantes das duas pontas da tabela da Série A, Amir Somoggi minimiza o caráter imprevisível do futebol.
"Isto acabou. Adoro futebol, sou apaixonado pelo esporte, mas ele se converteu num negócio. Não dá para você dizer: 'Ah, mas quando o juiz apita, o negócio fica do lado de fora'. Isto é mentira", teoriza, para, em seguida, ilustrar:
- Quando o salário não está em dia, o jogador não joga bem. Se contrata alguém com salário alto demais em relação aos outros, a equipe se sente melindrada, não passa a bola. Aspectos até maiores, como interesses comerciais que fazem um time ter uma pré-temporada que atrapalha sua preparação; isto aconteceu com o Real Madrid muitas vezes.
Seu raciocínio é claro: "A relação do negócio com o esporte, em termos gerais, é essencial. Não há hoje esporte de alto rendimento que não tenha um grande investimento financeiro".
Somoggi não vê outro caminho. "É uma tendência irreversível, o que os clubes menores têm que fazer é se fortalecer mercadologicamente, contratar bons profissionais, desenvolver sua marca, aumentar sua receita com jogos, fazer o extremo esforço para não ficar para trás, pois já estão ficando".
Eficiência
O dinheiro em si, no entanto, não signfica êxito necessariamente. Há que saber gerir os recursos. "Entre aqueles que mais gastam, dá para você traçar uma comparação entre aqueles mais eficientes. Nem sempre aquele que mais gastou foi o melhor. O que fica muito claro é que quem gasta pouco vai ficar na zona intermediária ou embaixo na tabela. Você vê exemplos típicos de Avaí e Goiás (no Brasileirão de 2009), que vão bem num momento da competição e depois caem", diz Amir Somoggi, com a experiência de anos analisando as contas dos clubes.
Caso emblemático de eficiência na aplicação do dinheiro envolve a dupla Gre-nal. "O Internacional foi o segundo clube que mais gastou com departamento de futebol em 2008 e ficou em sexto lugar na Série A. O Grêmio, que gastou menos, entre os que mais gastaram, ficou em segundo", lembra Somoggi.
O desempenho em campo atrela-se às receitas. "Em termos gerais, a gestão do departamento de futebol depende, cada vez mais, de o marketing faturar mais para o clube. Porém, não é só dinheiro porque, se não, quem faturasse mais dinheiro ganhava (o título)", frisa o especialista.
Ganhar ou manter estatura passa pelo trabalho de engordar as cifras. "Se o clube souber se estruturar mercadologicamente, por ter grandes torcidas, marcas importantes e estádios como alavancador de seus negócios, pode, sem sombra de dúvida, implementar esta consolidação (como grande)", orienta o consultor.
Clubes de maiores torcidas atraem mais anunciantes, aparecem em mais partidas televisionadas, ganham mais espaço no noticiário. Com mais dinheiro, aumentam suas chances de êxito. E de arregimentar mais seguidores, mais patrocinadores, mais valor midiático...
A crescente disparidade, fomentada pelo modelo capitalista, firma-se no ciclo vicioso dos gigantes a quem cabem parcelas maiores. "O Clube dos Treze poderia, se quisesse, equilibrar um pouco esta equação com as cotas de transmissão de TV. A única forma que teria. Mas acontece o mesmo processo: os de cima ganham muito mais do que os de baixo", explica Somoggi.
Há ligas esportivas europeias e americanas que fazem uma série de exigências para que não se erga um abismo tão grande entre os times grandes e pequenos, conta Somoggi. Na prática, porém, as outras fontes de receita mantêm o abismo de orçamentos. "Por mais que se tenha feito isso na liga de beisebol dos EUA, o time que menos fatura arrecada muito menos do que o que mais fatura, mesmo recebendo valor igual da TV", rabisca um paralelo, citando também ocorrências do futebol europeu.
Segmentação de mercado
Se nem todos podem virar potências, existem alternativas para os estagnados. "São clubes de nicho. Eles têm que buscar seu espaço. Há soluções para todos", dá esperança Amir Somoggi. "O Náutico nunca vai ser o Flamengo. Mas, para sua torcida, em Pernambuco, ele é muito mais importante que o Flamengo", exemplifica.
Conhecer seu mercado é fundamental. "O Fluminense possui uma grande participação de torcedores na classe AA, do mais alto padrão de consumidor. É preciso explorar esse caráter local pra buscar patrocinadores e desenvolver ações de marketing voltadas para seu público", orienta.
Somoggi ilustra seu pensamento a partir do espanhol Osasuna, cuja "chance de ser campeão é nula". Mesmo nanico, consegue arrecadações suficientes. "Ele tem ocupação histórica de 90% do seu estádio, coisa que nenhum clube brasileiro possui", compara o especialista.
Ele comenta que Inter e Grêmio, mesmo sem o caráter nacional e o valor de marca das equipes cariocas e paulistas, obtêm faturamento alto por meio de estratégias com enfoque regional. "Têm patrocínios muito menores do que Flamengo, Corinthians e São Paulo, mas, em termos de receita, figuram no topo porque ganham com venda de jogadores, com seus sócios, ações de marketing".
"Esses times estão arregaçando as mangas, tomando o lugar de outros que ficaram para trás", aponta. "O licenciamento (de produtos) do Grêmio é maior do que o do Palmeiras, por exemplo".
E avisa Somoggi: "O Palmeiras tem um estádio para 30 mil pessoas, por exemplo, e o Inter tem estádio para 50 mil. No futuro, se o Inter souber explorar seu estádio, que vai ser sede da Copa de 2014, ele pode inclusive se consolidar como um dos grandes. O mesmo vale para o Grêmio e clubes que têm, de repente, um estádio menor."
Vamos lá:
Somoggi não falou nenhuma mentira. Quem mais investe mais chances possui de ganhar. A arrecadação do flamengo é duas vezes a nossa, podendo dobrar nos próximos anos. Logo, eles possuem mais possibilidades de serem campeões do que nós. Contra fatos não há argumentos. Pesa a favor deles a sua torcida e o imenso apelo de mídia que possui, o que permite que continue mantendo suas políticas arcaicas sem maiores consequencias. Basta um mkt bem trabalhado.
Não é o nosso caso. O crescimento de nossa torcida a nível nacional tem sido insignificante. Mas ainda temos um número respeitável de torcedores, ou seja, condições de dar um salto em nossas receitas. Acresce-se a isso o fato de termos estádio "próprio", e nossos ativos serem muito bem localizados, a meio-caminho entre o centro financeiro do RJ e os principais pontos turísticos.
E Somoggi não diz que a situação é irreversível. Apenas adverte que o tempo para nós está se esgotando. E a solução ele mesmo dá: DIVERSIFICAÇÃO DAS RECEITAS. O Botafogo não pode mais se dar ao luxo de ser apenas um clube de futebol.
Agora há algums incoerências em seu discurso. Como exemplo, temos o fluminense. A receita dele é pequena, mas é um dos que mais gastam com futebol, com uma folha salarial que, ano passado, beirava os R$ 3 milhões. Quase o dobro da nossa. Ou seja, uma receita menor não quer dizer necessariamente menos gastos com o Futebol. Basta um bom direcionamento orçamentário.
Além disso, por mais estrutura e orçamento que um clube brasileiro tenha, não tem - ainda - como competir com os clubes europeus. Isso significa perda de jogadores decisivos durante campeonatos. Isso aconteceu com o flamengo em 2008, que perdeu de cara Marcinho e Renato Augusto, o que provavelmente lhe custou o título. Ok, foram para clubes não-europeus, mas serve como ilustrativo.
O Maurício Assumpção, críticas a parte, sempre advertiu para algo básico: O FUTEBOL DO BOTAFOGO NÃO PODE FICAR SUSTENTANDO O CLUBE. Ele sempre quis, desde o começo, cada um no seu quadrado, ou seja, gerando renda pos si próprio - esportes olímpicos, social, futebol. Se conseguirá, não sei. Será ótimo se sim.
A primeira ação, acredito, é o lançamento do plano de sócio-contribuinte (que será em fevereiro). Se for do jeito que está previsto no estatuto e tiver um preço acessível, vou adquirir o meu na mesma hora e tentar, de alguma forma, mudar o Botafogo. O instrumento para isso eu terei, que é meu voto. Acredito que muitos aqui pensam parecido. E isso pode alavancar as receitas do social, de forma que deixe de ser deficitário. Assim espero.
Atenção para esse parágrafo:
"Se o clube souber se estruturar mercadologicamente, por ter grandes torcidas, marcas importantes e estádios como alavancador de seus negócios, pode, sem sombra de dúvida, implementar esta consolidação (como grande)"
Temos as duas últimas. Se soubermos trabalhar a longo prazo, poderemos conseguir a primeira. O Botafogo possui uma imagem muito simpática fora do Rio. Temos aí potenciais torcedores. Vale a pena lembrar que o escudo do Botafogo é considerado o mais belo do mundo. Poderíamos encontrar uma forma de capitalizar isso.
Apesar de estar em processo de envelhecimento, a torcida do Botafogo ainda tem um bom contingente jovem. Uma estratégia bem-feita de mkt acompanhada de um ST com direito a voto, com recursos indo diretamente para o depto. de futebol pode ser o pontapé inicial de uma reestruturação financeira e administrativa.
Se colocarem direito à voto no ST, aí começo a acreditar no Maurício Assumpção. Sonhar não custa nada.