quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Clausewitz, Napoleão, exército de massas e o Botafogo

Estou começando a ler um livro interessantíssimo (para quem é entusiasta do assunto) chamado "Da Guerra", escrito por Carl von Clausewitz, general prussiano que lutou contra as forças de Napoleone Buonaparte.

Clausewitz conseguiu colocar em um livro o que Napoleão fez no campo de batalha. Napoleão revoucionou a organização militar ao mudar a arte da guerra. No séc XVII, os exércitos eram compostos por profissionais com anos de experiência cuja única virtude solicitada era a obediência - daí a grande quantidade de mercenários em suas fileiras. Diga-se de passagem, eram forças altamente profissionais, mas de tamanho limitado, assim como suas guerras.

Napoleão mudou isso ao compor seu exército de "patroitas" - pessoas que acreditavam que lutavam, matavam e morriam por algo superior. Entrou um elemento novo na guerra: o moral.

Napoleão, de maneira brilhante, soube compreender o significado do moral, com o qual inflamava o entusiasmo dos homens através de discursos inflamados e manifestações de solicitude. O resultado disso é que ele redesenhou a Europa a seu belprazer.

Clausewitz conseguiu converter as táticas e estratégias de Napoleão em pensamento e palavras. Compreendeu que o sucesso de napoleão se devia à substituição do pequeno exército profissional pelo exército de massas. O conceito de guerra passara a ser nacional. Surgiria a "nação em armas". A democratização da guerra.

Clausewitz dizia, com efeito: "Dêem a guerra ao povo! O Estado é do Povo!"

Mas isso não surgiu da noite para o dia. A oposição política veio daqueles que receavam mais os cidadão armados do que as invasões estrangeiras. Afinal de contas, um camponês com uma arma pode começar a pensar qual é afinal o seu lugar na sociedade.

E onde o Botafogo entra nisso?

Simples: o Botafogo tem grande semelhança com as monarquias pré-napoleônicas:

- uma pequena classe dirigente (Maurício Assumpção, vices-presidentes e diretores);
- uma nobreza que teme - infundadamente - perder seus privilégios (os sócios-proprietários);
- um pequeno exército profissional (os jogadores);

E milhões de patriotas aguardando um Napoleão compreender que isso tudo mudará - e para a melhor - quando colocarmos os "patrotas" em marcha - ou seja, pessoas tem uma razão para lutar e acreditam nessa razão - ou seja: nós, os torcedores.

As vitórias espetaculares da França e o início da formação, sessenta anos depois, daquela que seria a mais formidável máquina militar do começo do século XX - o Império Alemão veio com a democratização da guerra. Veio quando o povo foi chamado para comprar a briga. (Óbvio. daí originaram-se também as maiores tragédias do séc. XX. Mas isso é assunto para outra hora.)

E é isso que falta para o Botafogo voltar a ser temido, como há 40 anos atrás - a democratização do seu futebol. A criação de um exército consciente de seu papel e da causa pela qual luta.

Entendem por que temos que lutar pelo Sócio-torcedor com direito a voto?

Voltarei mais tarde ao assunto, enquanto leio o livro - que não é pequeno, pois tem 930 páginas, e ainda estou na introdução. Mas prometo terminar antes de morrer.

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