quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Cada um no seu quadrado

Debate interessante entre um ateu - Janer Cristaldo, jornalista, advogado e professor de filosofia - e um deísta - eu.

Sim, é possível alguém que não crê em deus algum e alguém que crê em Deus conversar sobre fé desapaixonadamente.

Janer, uma pergunta:

Posso parecer meio simplista, mas não poderia a fé e a ciência conviverem juntas, porém separadas?

Explico: o sujeito pode manter sua fé, mas a partir do momento que ele põe os pés dentro de uma universidade, que é um templo dedicado ao saber humano (assim presumo...), precisa se desfazer de toda e qualquer verdade absoluta, pelo menos durante o perído em que estiver ali dentro.

Faço uma analogia ao jogador de futebol: pode ser torcedor fanático do Internacional, mas está jogando pelo Grêmio. Então dentro do mato terá que se matar pelo Grêmio, até mesmo quando jogar contra o Internacional.

É possível?

Resposta de Janer:

Bom, Rafael, religião e futebol em muito se parecem. O mundo está cheio de católicos que se dizem católicos sem entender nada de catolicismo, só porque acham que a alguma religião devem pertencer. Da mesma forma como alguém é gremista ou colorado. A verdade é que, de modo geral, quem se dedica a estudar as religiões a fundo são os ateus. Por isso somos ateus.

No caso que propões, resta ainda uma pergunta: e quando o fulano sai da universidade? Ele se desfaz do saber ali adquirido para preservar sua fé?

O sujeito pode manter sua fé. Mas nas situações em que é necessário aplicar seu conhecimento acadêmico adquirido, terá que deixar sua fé dentro de um baú. Aquela velha história: A César o que é de César. A Deus o que é de Deus. Pelo menos, para mim, seria assim em um mundo ideal.

Aí, creio, depende da capacidade de discernimento de cada um.

E uma das coisas que aprendi lendo seus escritos foi a ter discernimento.

Creio que essa questão de 3 deuses em 1, mundo criado em 6 dias, o primeiro homem e a primeira mulher, o dilúvio, as pragas bíblicas, et caterva, já estão silenciosamente em xeque há muito tempo. Poucos são os crentes - e quando digo crentes, me refiro a católicos, protestantes, evangélicos, enfim, qualquer que crê na Bíblia - que acreditam nisso. Pelo menos os que eu conheço. Normalmente os menos instruídos.

É certo que muitos acreditam "não ter sido bem dessa forma". O que por si só é um questionamento.

Acompanhei pregação de pastores durante muito tempo e posso afirmar: a maioria desses acontecimentos são usados figurativamente. Hoje o que conta mais é o "sobrenatural", o "espetáculo do milagre", o "show da fé".

Tudo feito sob medida para os incultos...

Resposta de Janer:

Salve, Rafael! Certa vez eu disse para minhas alunas: quando vocês entrarem nesta sala, a fé vocês deixam ali do outro lado da porta. Na saída, peguem-na de volta.

domingo, 1 de novembro de 2009

Só retirem essa faixa quando acabar o campeonato

Crédito: Vestiário Alvinegro

Só assim esses dois tomam alguma dose de vergonha na cara e jogam o que jogaram hoje no Beira-Rio.

Dá-lhe, Fogão!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O meu Deus pessoal e intransferível

De uns tempos para cá, tive sérios questionamentos com respeito ao Deus bíblico e ao próprio cristianismo em si, cujo caráter coercitivo me levou a perguntar-me se era realmente válido. A leitura de textos de Epicuro, aliado aos escritos de Nietzsche (que era um admirador de Cristo, e achava que os judeus haviam subvertido sua mensagem original), a alguma leitura inicial de Ernest Renan e uma fuçada em história antiga e medieval, me fizeram chegar a conclusão de que a religião era (e é) um método eficiente e maquiavélico usado pelos homens para dominar outros homens. Apesar de não ter sido suficiente para me tornar um ateu, pois acho que existem muitas coisas que ainda fogem da compreensão humana, e não sei, creio existir alguma força superior por trás disso.

Note, que quando eu digo maquiavélico, digo não no sentido de maldade, e sim no sentido próprio de Maquiavel, que dizia que a melhor forma do príncipe manter a fidelidade dos súditos era através do medo. Em particular os mais ignorantes. Daí a bíblia afirmar que "o conhecimento nos afasta de Deus". Então deve ser melhor viver na ignorância?

Alguns dizem que conceitos com ética, honestidade, equilíbrio vieram com a bíblia. Mas Aristóteles já falava a respeito disso séculos antes, assim como Epicuro.

Isso fez mudar meu conceito de Deus. Não o vejo como aquele tirano bíblico egoísta e ciumento que dizia que lhe amava, mas se não o amássemos, seríamos lançados no lago de fogo e enxofre.

Do contrário, vejo-o como alguém disposto a pregar peças em nós, que vive nas pequenas coincidências da vida, que nos deu um mundo e um universo e disse: "desfrutem, pesquisem, questionem, descubram como isso tudo foi feito, e o que pode ser feito com tudo isso".

Talvez seja apenas o meu Deus pessoal e intransferível, como dizia Nelson Rodrigues. Bom, sendo pessoal ou não, me parece ser boa companhia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Quando vier um tsunami...

... já sei onde vou me esconder:

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Eles não gostavam de mulher

Esses dia, pesquisando algo a respeito da guerra russo-japonesa, acabei fuçando artigos sobre a história da Família Romanov. Movido pela curiosidade natural, vi pinturas e álbum de fotos da família e não pude deixar de ficar admirado com a opulência do Império Russo naqueles dias, mas ao mesmo tempo, também fiquei impressionado com a imagem do Czar como um simples chefe de família.

Era a Rússia dos Romanov. A Rússia dos contrastes. A verdadeira Rússia.

Mas mais impressionante ainda era a beleza de suas quatro filhas (para mim, Tatiana, a segunda filha, era a mais bela). Mesmo em fotos, parecem ser encantadoras. Bom, o Czar era um homem muito bonito, e sua esposa, mais ainda. O resultado disso já era de se esperar: uma bela descendência.

Que foi barbaramente interrompida por estúpidos bolcheviques. Como dizia um certo senador tupiniquim: "Ô raça!"

Confesso que, nos meus dias de esquerda, até tinha feito uma leitura bem superficial do assassinato do Czar. Mas agora entrei em detalhes, e acho inacreditável saber que há milhões de esquerdistas no mundo inteiro que não se comovem com a forma brutal que membros do regime por eles admirado tiraram a vida de uma linda família. Um chefe de família, sua esposa, três jovens lindas e um casal de adolescentes não menos belos foram brutalmente assassinados sem o menor direito à defesa.

Três lindas jovens...

Acho que bolches não gostavam de mulher...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Vítima de si próprio

Melhor adjetivo para definir Michael Jackson. Um homem que explorou sua imagem ao máximo, mas não teve a sensibilidade de perceber quando era hora de mudar, e quando percebeu, não teve a habilidade necessária para mudar.

Enfim, mais uma vítima do Pop. O Pop não poupa ninguém, como já dizia os Engenheiros do Hawaii.

Requiescat in Peace, Michael.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

De volta. Mais puto do que nunca.

Olha, por mais que tentemos manter o otimismo, tá complicado! Complicado demais!

Sabemos que o Botafogo foi vítima de mais de 30 anos de gestões compostas por incapazes e entrevados mentais, o que contribuiu para a não renovação da torcida. Nos anos 80, enquanto o flamengo ganhava 4 brasileiros, uma libertadores e um intercontinental, o vasco ganhava 2 brasileiros e o fluminense ganhava um, não ganhamos nada!

21 anos desastrosos! Mas a torcida manteve-se fiel. O problema é que essa geração de 89 hoje está com 40, 50 anos, e a maioria da faixa da minha idade (29) torce pelo flamengo ou vasco.

Dizem que clubes levam 20 anos ou mais para morrer, seria isso que está começando a acontecer com o Glorioso? Será que o Botafogo daqui a 20, 30 anos será apenas página dos livros de história?

Não temos capacidade de investimento. Não temos marketing atuante no sentido de atrair bons parceiros. Estamos com um passivo gigantesco. Somos a todo momento tripudiados pela imprensa, o que afasta ainda mais qualquer patrocinador de peso, afinal de contas, quem vai querer investir em uma marca que é sinônimo de derrota? Estaremos marcados por muitos anos ainda pela imagem infame do "chororô", protagonizada por aquele miserável do Túlio e aquele traste do Bebeto.

Será que não há nada de bom que possa sair de lá de General Severiano?

Será que a todo momento dirigentes incapazes ficarão criando expectativas na torcida para serem desfeitas no dia seguinte?

Será que o clube continuará sendo uma instituição fechada, onde ninguém sabe como será decidido seu futuro?

Que sina a desse Botafogo! QUE TRISTE SINA!

O pior é que não me vejo vestindo uma camisa vermelho e preto, uma camisa verde-branco-grená ou uma camisa com uma faixa diagonal preta. Me pergunto: para que fui torcer por essa porcaria? Para que?

Mas o time é retrato da torcida.

Que merda de torcida de merda é essa que não faz uma pressão?

Que merda de torcida de merda é essa que não vai cobrar providências da diretoria?

Que merda de torcida de merda é essa que não vai a um estádio ajudar, por pior que o time esteja?

E a torcida é retrato do time

Que merda de time de merda é esse que promove um espetáculo dantesco de choro coletivo, que nos envergonha até hoje?

Que merda de time de merda é esse que perde três campeonatos seguidos para o mesmo rival, dando motivos de sobra para sermos tripudiados por essa imprensa oba-oba pela-saco de urubu?

Que merda de time de merda é esse que não teve um jogador com culhões de dar uma banda naquele baixinho marrento e FDP do Juan, quando esse delinquente agrediu Maicossuel? Foda-se o juiz!

Olha, eu tô puto! Aliás, eu tô muito puto! É só notícia ruim em cima de notícia ruim! Nada de bom aparece, nada!

Cara, o Botafogo é amaldiçoado! Só pode ser! Bota aquela merda toda abaixo e construam um novo Botafogo.

Porque esse não deu certo.

domingo, 1 de março de 2009

Presentão

Uma única consideração sobre o presentão que o Glorioso deu a essa Cidade Maravilhosa Apesar de Tudo:

O deus do futebol é zombeteiro, injusto e, graças a Deus, FALHO.

É CAMPEÃO!!!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Assim, nem relógio trabalha...

Palavras do urubu vice-rei, Kléber Leite:

- O Flamengo só vai completar dois meses de salários atrasados no dia 25 de fevereiro.

Ou seja, já tem data definida para atrasar salário. Mas pagar que é bom...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

"Underway by nuclear power*"

É quase um clichê falar sobre o capacidade visionária de Julio Verne. O romancista francês previu inúmeros avanços científicos, como o submarino, a televisão, as viagens espaciais, globalização do sistema de produção entre outros.

Seus livros possuem, inclusive, coincidências extraordinárias, como, por exemplo, no romance "Da Terra à Lua", de 1865, onde Verne põe o local de lançamento da nave onde estavam Michel Ardan, Impey Barbicane e o Capitão Nicholl próximo de onde está o atual Centro Espacial Kennedy, da NASA, de onde saíram as missões Apolo.

Vale a pena lembrar que, antes que questionem tal conincidência, a localização de uma base de lançamento de foguetes segue critérios especificamente técnicos, como proximidade da linha do Equador, entre outros.

Lógico que tal feito utilizando um canhão como meio propulsor é tecnicamente impossível, pois a aceleração necessária para que seja atingida a velocidade de escape (velocidade em que a gravidade não consegue mais trazer o objeto de volta à Terra, mais ou menos 11 km/seg) em um trecho tão curto (o comprimento do cano do canhão) simplesmente transformaria qualquer coisa viva dentro do projétil em pasta.

Mas vim falar sobre outro livro: "Vinte mil léguas submarinas"

Certa vez Janer falou sobre o visionário de Taubaté, que previu, entre muitas outras coisas, a Internet, o planejamento minucioso da eliminação física de uma população inteira (só errou o lugar) e a eleição de um presidente negro nos Estados Unidos. Seu nome: Monteiro Lobato.

Pois venho dar meu depoimento, e será através de "vinte mil léguas submarinas". Que me interessa particularmente pelo interesse que tenho por máquinas e seu funcionamento. Nesse caso, um submarino.

Sei que o submarino já existia nessa época. Lógico, bem rudimentar (USS Hunley) Mas me chama a atenção a maneira como Verne o descreveu, muito próxima a dos submarinos atuais. A começar pela propulsão. Segundo o Capitão Nemo:

"Há um agente poderoso, obediente, veloz, de fácil manejo, que se amolda a todos os usos e que reina como senhor absoluto a bordo o Nautilus. Ele, aqui, tudo faz. Ilumina, aquece, é vida e alma de meus aparelhoe mecânicos. Este agente onímodo é a eletricidade."

Hoje, a maioria dos submarinos são de propulsão diesel-elétrica, com odiesel sendo usado na superfície e a eletricidade quando submerso. Embora novas tecnologias estão sendo desenvolvidas como a célula de combustível e o AIP (Air Independent Propulsion), a primeira, em fase de estudos e a segunda, já adotada por diversas marinhas.

Além da propulsão, também Verne previu seu design:

"Aqui estão as diversas dimensões do barco que nos transporta. Tem a forma de um cilindro comprido com extremidades cônicas. É sensivelmente parecido com um charuto, forma adotada em Londres para várias embarcações da mesma espécie"

Tal forma é hoje utilizada por todos os submarinos que navegam mundo afora. É o casco em forma de "gota". Nemo continua a descrição:

"O comprimento deste cilindro, de ponta a ponta, é exatamente setenta metros, e a viga da coberta, na maior largura, mede oito metros.(...)Vale dizer que completamente submerso desloca mil e quinhentos metros cúbicos, ou pesa mil e quinhentas toneladas."

É a medida padrão dos submarinos atuais. Em especial os diesel-elétricos. Os nucleares possuem um comprimento e um deslocamento maior em razão de seu maquinário mais volumoso.

"O Nautilus possui dois cascos, um interior e outro exterior, ligados em si por barras de aço em T, que lhe dão rigidez insuperável. Realmente, graças a essa disposição, resiste como se fora um só bloco. A sua bordagem não pode ceder, porque adere por si mesma e não pela pressão de rebites, e a homogeinidade, devida à perfeita ligação dos materiais, permite-lhe desafiar os mares mais tempestuosos."

Aqui, Verne descreve aquele que seria o método construtivo dos submarinos até hoje. o que impressiona é que, no Nautilus, até mesmo os rebites não seriam usados. Previu, inclusive, o sistema de direção:

"Para dirigir essa barco para bombordo, para estibordo, em uma palavra, para governá-lo no plano horizontal, sirvo-me de um leme comum de grande safrão, cravado através do cadaste e que movimento por meio de roda e de talhas. Entretanto, também posso movimentar o Nautilus em plano vertical, de baixo para cima e de cima para baixo, mediante dois planos inclinados presos ao costado à altura do centro de flutuação e que são móveis, podendo tomar todas as posições, sendo manobrados do interior do submarino por meio de poderosas alavancas. Quando esses planos são conservados paralelos ao barco, este se deloca horizontalmente. Quando inclinados, o Nautilus, de acordo com a inclinaçãoe sob impulso da hélice, desce ou sobe, segundo a diagonal que me convenha."

Tais planos, nos submarinos de hoje, geralmente ficam a ré (perpendiculares ao leme) e a vante (ou na torreta).

Verne, previu, inclusive, a construção em módulos à partir de locais diferentes, um prenúncio do sistema de produção do mundo globalizado de hoje. Pergunta o professor Aaronax:

- Então o senhor é engenheiro?

- Sim - respondeu Nemo - Estudei em Paris, Londres e Nova York, no tempo em que era habitante da terra.

- Como conseguiu construir em segredo este maravilhoso submarino?

- Cada uma de suas partes veio de um ponto diferente do globo e com o endereço diferente do verdadeiro. E todos os fornecedores receberam a encomenda e as especificações sob nomes supostos.

Para exemplificar, o jato Embraer EMB-145 é nacional só no papel, pos várias de suas partes são fabricadas em outros lugares. As asas são fabricadas no Chile. O trem de pouso, nos Estados Unidos. Só para exemplificar.

Lógico que em alguns aspectos Verne exagera, como por exemplo, quando o Nautilus atinge dezesseis mil metros de profundidade (os submarinos modernos não chegam a quinhentos, e o ponto mais profundo da Terra não chega a doze mil). Mas o que seria da ficção científica sem seus pequenos exageros?

Mas, o mais impressionate, para mim, foi a antecipação de outro feito humano extraordinário:

- Ora, Professor - replicou com ironia o capitão - o senhor será sempre o mesmo! Só vê empecilho e obstáculos! Eu lhe asseguro que não só o Nautilus se libertará (estava preso na banquisa) como prosseguirá em sua rota.

- Mais para o sul? - perguntei, encarando o capitão

- Perfeitamente. Irá ao pólo

- Ao pólo? - exclamei, sem poder conter movimento de incredulidade.

- Ao pólo - respondeu friamente o capitão. Ao pólo antártico, a esse ponto desconhecido, em que se cruzam todos os meridianos do globo. O senhor sabe que faço do Nautilus o que quero.

Em 9 de junho de 1958, o USS Nautilus (SSN-571), primeiro submarino nuclear construído no mundo, iniciou uma épica travessia cujo ápice ocorreria às 23h25min do dia 3 de agosto, quando sua torreta rompeu um ponto do pólo norte onde a camada de gelo estava mais fina (descoberto através do sonar). É uma viagem épica porque foi uma travessia feita por debaixo da camada de gelo, sob águas não mapeadas e utilizando apenas o sonar - que Verne não previu, pois Nemo achou um ponto mais fino no gelo através da tentativa e erro, ou seja, tocando várias vezes o dorso do submarino na superfície de gelo.

Verne, em 1870, previu um feito que viria a acontecer 88 anos mais tarde. Só errou o local.

Enfim, são essas pequenas coincidências que torna a obra de Julio Verne tão fascinante e que lhe dá, muito justamente, o título de pai da ficção científica.

*Mensagem histórica emitida pelo Comandante do USS Nautilus (SSN-571) ás 11 horas do dia 17 de Janeiro de 1955, quando a embarcação se pôs ao mar pela primeira vez, inaugurando uma nova era na guerra submarina.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Frase do dia

"Você começa a perceber que está velho quando o assunto do churrasco de domingo passa a ser sobre remédios". Moi

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Buscar para quê, se posso pedir?

"Ah o meu orixá nunca me deixou na mão. Tudo que eu pedi ele me deu. Se tô precisando de dinheiro e invoco ele, ele me atende. Se aponto para aquele homem e digo "quero ele" ele vai lá e me atende. Quando tenho algum problema, invoco ele e tudo se resolve."

Ouvi isso de um rapaz no trem, voltando para casa (coisa feia esse negócio de ficar ouvindo conversa alheia). Não sei porque ainda me impressiono com isso. Deve ser porque odeio pedir as coisas. A conquista é um prazer caro a mim. Mas parece que não a outros. Hoje em dia todo mundo quer tudo fácil. Dinheiro fácil, homem fácil, mulher fácil, vida fácil. Trabalhar para quê?

E assim o ambiente se torna mais do que nunca propício aos teólogos da prosperidade. Que, aliás, prosperam grandemente graças aos pidões de todo tipo. Me recordo dos tempos de assembléia de deus. Havia um homem que dava aula na escola dominical cuja pregação só falava de bens materiais.

"Se você que um carro, vai lá e pede: Senhor, me dá um carro. E ele vai te atender. Pode ficar certo disso. Se você quer uma casa e pedir: Senhor, me dá uma casa, ele vai te dar. Você tem que crer!"

Edir Macedo sabe dizer isso melhor que ninguém. Seu patrimônio está aí para provar.

E os orixás nessa história? bom, vendo sua freguesia toda debandando para os templos, é óbvio que não ficariam de braços cruzados. Só que, como não tem os mesmos recursos audiovisuais dos neopentecostais teólogos da prosperidade, têm que usar da propaganda boca-a-boca.

Mas os orixás não precisam ficar apreensivos. Enquanto houver gente disposta a não buscar nada e viver só na base do "me dá", haverá sempre freguesia garantida.

Freguesia essa que aumenta cada dia mais.

Frase do dia (no aniversário da Terra da Garoa, e com a nova regra gramatical)

São Paulo não para. Porque não tem lugar para estacionar. (Crédito: José Simão)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Tudo em nome da fé

Certa vez, li um panfleto evangélico intitulado "O homem que matou Deus", falando a respeito de Nietzche e de uma de suas frases mais explosivas (imagina decretar a morte de Deus em pleno século XIX). Pois bem, esse panfletinho nos advertia a não seguirmos o caminho de Nietzche, pois "o seu fim foi terrível" (a velha tática da ameaça). E dizia que Nietzche no seu leito de morte afirmara que "se existe um Deus vivo, sou o mais miserável dos homens".

Acreditei em tal história durante muito tempo. Até que um dia li o livro "Nunca houve um homem como Heleno" do jornalista Marcos Eduardo Neves, que contava a biografia de Heleno de Freitas, grande jogador do Botafogo da década de 40 e um ícone de sua época, que terminou seus dias em um manicômio em S. J. Nepomuceno, vítima de sífilis em último grau.

Bom, não sei se os leitores daqui se interessam por futebol. Eu, particularmente, adoro. Ninguém é perfeito. Mas esse livro é bem interessante pelo fato de descrever todo o processo de degeneração do sistema nervoso de uma pessoa atacada por sífilis. Certamente alguns já conhecem, mas vou resumir: inicialmente há alterações repentinas de humor com frequentes rompantes de agressividade, passando para uma perda de lucidez que faz com que a vítima fale e faça coisas sem sentindo (nesse momento a pessoa é internada, muitas vezes pelo resto da vida), evoluindo para uma paralisação progressiva dos membros superiores e inferiores e encerrando-se em um estado vegetativo.

Pelo que consta, Nietzche teve idêntico fim.

Aí vem a questão: Uma pessoa em estado vegetativo não fala nada. Não faz nada. Como Nietzche teria proferido as palavras citadas pelo tal panfletinho se estava em estado vegetativo? Como dizia um programa de humor nacional: "Mistérios sobrenaturais do outro mundo".

Eis aí um caso claro de manipulação de informação. Mas... tudo em nome da fé. Até inventar que um filósofo em estado vegetativo cuja obra teve como marca a repulsa ao cristianismo teria admitido a possibilidade da existência de Deus.