Debate interessante entre um ateu - Janer Cristaldo, jornalista, advogado e professor de filosofia - e um deísta - eu.
Sim, é possível alguém que não crê em deus algum e alguém que crê em Deus conversar sobre fé desapaixonadamente.
Janer, uma pergunta:
Posso parecer meio simplista, mas não poderia a fé e a ciência conviverem juntas, porém separadas?
Explico: o sujeito pode manter sua fé, mas a partir do momento que ele põe os pés dentro de uma universidade, que é um templo dedicado ao saber humano (assim presumo...), precisa se desfazer de toda e qualquer verdade absoluta, pelo menos durante o perído em que estiver ali dentro.
Faço uma analogia ao jogador de futebol: pode ser torcedor fanático do Internacional, mas está jogando pelo Grêmio. Então dentro do mato terá que se matar pelo Grêmio, até mesmo quando jogar contra o Internacional.
É possível?
Resposta de Janer:
Bom, Rafael, religião e futebol em muito se parecem. O mundo está cheio de católicos que se dizem católicos sem entender nada de catolicismo, só porque acham que a alguma religião devem pertencer. Da mesma forma como alguém é gremista ou colorado. A verdade é que, de modo geral, quem se dedica a estudar as religiões a fundo são os ateus. Por isso somos ateus.
No caso que propões, resta ainda uma pergunta: e quando o fulano sai da universidade? Ele se desfaz do saber ali adquirido para preservar sua fé?
O sujeito pode manter sua fé. Mas nas situações em que é necessário aplicar seu conhecimento acadêmico adquirido, terá que deixar sua fé dentro de um baú. Aquela velha história: A César o que é de César. A Deus o que é de Deus. Pelo menos, para mim, seria assim em um mundo ideal.
Aí, creio, depende da capacidade de discernimento de cada um.
E uma das coisas que aprendi lendo seus escritos foi a ter discernimento.
Creio que essa questão de 3 deuses em 1, mundo criado em 6 dias, o primeiro homem e a primeira mulher, o dilúvio, as pragas bíblicas, et caterva, já estão silenciosamente em xeque há muito tempo. Poucos são os crentes - e quando digo crentes, me refiro a católicos, protestantes, evangélicos, enfim, qualquer que crê na Bíblia - que acreditam nisso. Pelo menos os que eu conheço. Normalmente os menos instruídos.
É certo que muitos acreditam "não ter sido bem dessa forma". O que por si só é um questionamento.
Acompanhei pregação de pastores durante muito tempo e posso afirmar: a maioria desses acontecimentos são usados figurativamente. Hoje o que conta mais é o "sobrenatural", o "espetáculo do milagre", o "show da fé".
Tudo feito sob medida para os incultos...
Resposta de Janer:
Salve, Rafael! Certa vez eu disse para minhas alunas: quando vocês entrarem nesta sala, a fé vocês deixam ali do outro lado da porta. Na saída, peguem-na de volta.
Sim, é possível alguém que não crê em deus algum e alguém que crê em Deus conversar sobre fé desapaixonadamente.
Janer, uma pergunta:
Posso parecer meio simplista, mas não poderia a fé e a ciência conviverem juntas, porém separadas?
Explico: o sujeito pode manter sua fé, mas a partir do momento que ele põe os pés dentro de uma universidade, que é um templo dedicado ao saber humano (assim presumo...), precisa se desfazer de toda e qualquer verdade absoluta, pelo menos durante o perído em que estiver ali dentro.
Faço uma analogia ao jogador de futebol: pode ser torcedor fanático do Internacional, mas está jogando pelo Grêmio. Então dentro do mato terá que se matar pelo Grêmio, até mesmo quando jogar contra o Internacional.
É possível?
Resposta de Janer:
Bom, Rafael, religião e futebol em muito se parecem. O mundo está cheio de católicos que se dizem católicos sem entender nada de catolicismo, só porque acham que a alguma religião devem pertencer. Da mesma forma como alguém é gremista ou colorado. A verdade é que, de modo geral, quem se dedica a estudar as religiões a fundo são os ateus. Por isso somos ateus.
No caso que propões, resta ainda uma pergunta: e quando o fulano sai da universidade? Ele se desfaz do saber ali adquirido para preservar sua fé?
O sujeito pode manter sua fé. Mas nas situações em que é necessário aplicar seu conhecimento acadêmico adquirido, terá que deixar sua fé dentro de um baú. Aquela velha história: A César o que é de César. A Deus o que é de Deus. Pelo menos, para mim, seria assim em um mundo ideal.
Aí, creio, depende da capacidade de discernimento de cada um.
E uma das coisas que aprendi lendo seus escritos foi a ter discernimento.
Creio que essa questão de 3 deuses em 1, mundo criado em 6 dias, o primeiro homem e a primeira mulher, o dilúvio, as pragas bíblicas, et caterva, já estão silenciosamente em xeque há muito tempo. Poucos são os crentes - e quando digo crentes, me refiro a católicos, protestantes, evangélicos, enfim, qualquer que crê na Bíblia - que acreditam nisso. Pelo menos os que eu conheço. Normalmente os menos instruídos.
É certo que muitos acreditam "não ter sido bem dessa forma". O que por si só é um questionamento.
Acompanhei pregação de pastores durante muito tempo e posso afirmar: a maioria desses acontecimentos são usados figurativamente. Hoje o que conta mais é o "sobrenatural", o "espetáculo do milagre", o "show da fé".
Tudo feito sob medida para os incultos...
Resposta de Janer:
Salve, Rafael! Certa vez eu disse para minhas alunas: quando vocês entrarem nesta sala, a fé vocês deixam ali do outro lado da porta. Na saída, peguem-na de volta.