Estava combinando com minha mulher de sairmos em uma sexta à noite para um programa há muito esquecido por mim - ir a um teatro assistir a uma peça nacional. A última vez que fui a um teatro foi há mais ou menos quatro anos para ver o Marcus Melheim e o Leandro Hassun na comédia "É nós na fita". Humor engraçadinho, daqueles que você acha graça e ri na primeira vez, mas algum tempo depois pensa "como joguei quarenta reais fora com essa merda?". Se bem que já fiz coisa pior - joguei sessenta reais fora em um show do Jô Soares...
Mas volto ao programa. Comecei a procurar alguma peça interessante e duas em particular me chamaram a atenção: "Mais Respeito que Sou Tua Mãe", com a excelente Cláudia Jimenez (que estava sensacional como a implacável Editora-Chefe Alberta Peçanha de "A Vida Alheia"), e "Doidas e Santas", com Cissa Guimarães, que também tem sido muito comentada. Olhei no site do Teatro do Leblon, onde estão em cartaz, e notei que os cartazes não mostravam tudo, estavam com a a parte inferior cortada. Fiquei meio cabrero com aquilo e resolvi investigar. Uma busca rápida no Google Imagens e lá estava ela, bem escondidinha:
Para quem não sabe, a Lei de Incentivo à Cultura, ou Lei Rouanet, é a tal da renúncia fiscal: parcela da tributação que a Receita perdoa aos grandes contribuintes desde que sejam aplicadas na tal "cultura" (uma "palavra-ônibus", que abarca um monte de coisa, de livro que ninguém lê a Cirque do Soleil). Só que quando um grande contribuinte deixa de pagar ao governo, o governo busca de outra fonte. Geralmente, aquela que está mais à mão.
Ou seja: o meu, o seu, os nossos bolsos, através de CPMF, CIDE, ICMS, PQP, FDP, VTNC, VSF...
Aí vem a pergunta: se já estou pagando pela peça, por que tenho que pagar mais R$ 80,00 pelo ingresso?
Aí vem outra pergunta: se é bom teatro, pressupõe-se que gere público suficiente para se sustentar em cartaz. Se precisa de verba governamental, é porque não se sustenta. Se não se sustenta, é porque a peça não deve ser tão boa.
Olha, tô decepcionado...